domingo, 14 de janeiro de 2018

Os efeitos cardiotóxicos dos quimioterápicos nos sobreviventes de câncer




Escrito por Patrícia Fraga Paiva
Coordenadora de Extensão da AAC






As inovações tecnológicas na abordagem da terapêutica oncológica proporcionou, além do incremento na sobrevivência, o aumento da mortalidade devido aos efeitos secundários da mesma. As doenças cardiovasculares (DCV) constituem as consequências mais frequentes do tratamento, podendo culminar em morte prematura, resultado da cardiotoxicidade dos quimioterápicos sobre a função e estrutura cardíaca, além de acelerar as complicações das DCV pré-existentes.

A cardiotoxicidade será mensurada e quantificada a partir do cálculo da Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) e poderá apresentar-se nas formas agudas, subaguda ou crônica.

Os variados agentes antineoplásicos (antimetabólitos, antraciclinas e agentes biológicos, hormonais, alquilantes e antimicrotúbulos), utilizados na abordagem dos diferentes tipos de câncer têm potencial cardiotóxico reversível e/ou reversível, dependendo da droga, no entanto têm o potencial de causar disfunção eletrofisiológica e estrutural do miocárdio, comprometendo a circulação e perfusão sistêmica.


A progressão e o grau de cardiotoxicidade são maiores em mulheres jovens, em que a administração intravenosa foi rápida e cumulativa, com irradiação mediastínica, doenças cardiovasculares prévias, distúrbios eletrolíticos e predisposição genética. Complicações letais podem surgir até 40 anos após o tratamento do câncer primário. A radioterapia torácica pode causar complicações cardíacas em 20 anos após o evento.

A avaliação inicial dos pacientes que serão submetidos à quimioterapia com potencial cardiotóxico visa excluir os pacientes com evidências clínicas, laboratorial e radiológica de ICC antes do início do tratamento e identificar aqueles que já apresentam redução da FEVE, associada aos sintomas ou não. É fundamental diagnosticar IC para evitar piora na qualidade de vida e aumento do risco de mortalidade. A avaliação cardiológica inicial contempla a realização de anamnese, exame físico, eletrocardiograma de 12 derivações em repouso e avaliação função ventricular esquerda pelo ecocardiograma.

O monitoramento de manifestações clínicas precoces de IC por toxicidade é aspecto fundamental para o manejo. A toxicidade pode se manifestar após vários anos de conclusão da terapêutica, desta forma, faz-se necessário o acompanhamento e avaliação de sintomas inespecíficos como cansaço, fadiga.


Atualmente, com os fármacos utilizados para IC e avanços diagnósticos, tornou-se possível identificar as fases mais precoces e até mesmo proporcionar melhora da função ventricular, mesmo quando já está instalada. As drogas que mudaram o prognóstico de pacientes com IC são que atuam no processo de remodelamento, proporcionando melhora de função e redução dos diâmetros ventriculares. Nesse contexto, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores de receptores AT2, beta-bloqueadores e bloqueadores da aldosterona são drogas de primeira linha para o tratamento da IC, independentemente da etiologia.

O dexrazoxane, única droga certificada para prevenção da cardiotoxidade induzida pelas Antraciclinas, tem utilização controversa devido ao comprometimento da eficácia do tratamento e aumento de neoplasias secundárias, tendo seu uso restrito pela FDA em adultos. No entanto, o tratamento com ß-bloqueadores e os inibidores da enzima conversora de angiotensina diminuem a probabilidade de cardiotoxidade secundária.

A incapacidade de prever o desenrolar do processo neoplásico maligno, associada ao diagnóstico de DVC como efeitos secundários ao processo quimioterápico, pode resultar em interrupção equivocada de uma intervenção que salvaria a vida do paciente. A abordagem requer atuação multidisciplinar a fim de proporcionar assistência em saúde na sua amplitude máxima, visando o bem-estar do paciente.

O blog “AAC - Cheers” brinda pela sua saúde e visita!




Nenhum comentário:

Postar um comentário